Relações abusivas e nossas reações.
- George V.C.Claudio
- 21 de abr. de 2017
- 3 min de leitura
A vida diária nos apresenta diversas situações, e frequentemente não conseguimos observar o que sentimos naquele momento, o que pensamos e principalmente como lidar com as situações no momento em que se apresentam nas nossas vidas, e respondemos afetivamente a cada situação.
A questão é que respondemos afetivamente, mas não nos damos conta desse afeto, o que motivou ou originou tal resposta, uma vez que, de forma automática repetimos padrões de comportamento que estão estabelecidos há muito tempo por nossas características, histórias de vida, desejos e fantasias, e por não nos conhecer suficientemente, usamos filtros e vernizes com o objetivo de “dar a cor” as nossas vidas. Porém, novas situações irão surgir, e em algum momento da nossa existência teremos de lidar com nossos sentimentos, e as formas com as quais podemos lidar são muito diversas.
Não há como avaliar de maneira objetiva se esse hábito é bom ou ruim, mas os efeitos e consequências dessa prática é o que irá compor nossas vidas, relações, afetos e emoções, e por isso é que o autoconhecimento se torna tão importante, uma vez que cada um de nós, ao se conhecer melhor consegue também identificar o que existe por trás de cada resposta utilizada, de cada situação, e dessa forma conseguimos buscar os comportamentos mais assertivos, selecionar as relações que nos enriquecem emocionalmente e principalmente melhorar a qualidade em cada relação que mantemos.
O uso desses filtros nos conduz a duas possíveis realidades distintas: quando escolhemos não dizer o que sentimos, ou como nos sentimos em relação a algo, e assim perpetuamos determinadas situações em cada relação, e então corremos o risco de desenvolver possíveis distúrbios, que poderão se manifestar nas nossas vidas, tais como dores, dificuldades em respirar, tremores, suores, cansaço, perda de energia, aumento ou redução de apetite, dificuldade para dormir, sonolência durante a jornada diária, entre outros; e quando escolhemos dizer o que sentimos ou como nos sentimos em relação a algo, a fim de modificar as situações em cada relação, e então corremos o risco de sermos interpretados como egoístas, insensíveis, narcisistas, entre outros predicativos, além de invariavelmente sermos interpretados pelo outro de maneira incorreta, como por exemplo, a outra pessoa justificar nosso comportamento classificando-o como nervosismo, quando nós estamos expressando algo que nos deixou descontentes ou nos incomodou.
Nesse sentido, é importante considerar que as consequências geradas pelos filtros que utilizamos no dia a dia em nossas vidas podem ou não ser classificadas pela psiquiatria como transtornos, e cada caso deve ser avaliado individualmente, uma vez que existem diferenças marcantes entre transtornos e comportamentos que se apresentam como respostas à situações de vida, e que por isso não ocasionam prejuízos para o indivíduo. A psicologia surge então como uma ferramenta importante para tal diferenciação, uma vez que avaliará o que é relatado pelo paciente, considerando sua constituição, dia a dia, relações, afetos, comportamentos e consequências decorrentes, frequência com a qual o comportamento é apresentado, prejuízos sociais e físicos decorrentes do comportamento, e ao fazer essa distinção, realiza o tratamento através de técnicas próprias, encaminhando os casos fora de sua alçada para tratamento externo.
O tratamento realizado através da psicologia é a psicoterapia, através do qual o psicólogo auxilia o paciente em seu processo de autoconhecimento, e o paciente, ao se conhecer melhor identifica suas questões, sentimentos, emoções, relacionamentos, comportamentos, consequências, e a partir de então faz escolhas mais conscientes, se tornando responsável por sua própria existência, e dessa forma, o paciente reconstrói sua vivência, com maior qualidade de vida e relações mais consistentes.
Nesse sentido, um dos ganhos em qualidade percebidos pelo paciente é que, o paciente ao identificar suas necessidades emocionais, busca relações nas quais essas necessidades possam ser supridas, relações nas quais se realizam trocas reais através de diálogos, quando se torna capaz de expressar o que sente, o que necessita, ouvindo da outra parte seu posicionamento a respeito do mesmo tema, sem a necessidade de se autoafirmar, agredir verbalmente o outro, ou utilizar de comportamentos de manipulação para atingir sua satisfação. Dessa forma, o que se observa é que as relações são percebidas em seu contexto real, sem que um ou o outro tenha de se moldar para que a relação tenha continuidade com um conteúdo insatisfatório.
Filmes para reflexão acerca do conteúdo do texto:
Filme: No Filter/Sin Filtro/Sem Filtro
Ano: 2016
Direção: Nicolas Lopes
Elenco: Paz Bascuñán,Antonia Zegers, Ariel Levy, Lucy Cominetti, Carolina Paulsen

Filme: Relatos Selvagens
Ano: 2014
Direção: Damián Szifron
Elenco: Ricardo Darín, Oscar Martinez, Leonardo Sbaraglia mais.

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